segunda-feira, 14 de maio de 2012

Resposta a De Gaulle


13 de Junho de 1964

“Le pays sait bien que l’État, la République et notamment sa tête, doivent être la représentation ferme, continue, impartiale, de l’interêt général… Pour plus tard, je ferai en sorte, pour ma part, qu’il en soit ainsi encore, comme il en est ainsi aujourd’hui».
(De Gaulle, em Soissons, 11 de Junho de 64)

Os regimes de poder pessoal vivem assim entre a nostalgia e a caricatura do poder monárquico.
A “imparcialidade” do General De Gaulle passa de facto as marcas…
“Moi, que incarne depuis vingt ans la legitimité de la France… » (citação de cór).
Como ele gostaria que isso assim fosse na realidade e não só nas suas palavras!
Mas bastaria, até, a ânsia do poder para revelar a sua ilegitimidade. O poder legítimo recebe-se como um encargo e uma missão – não se conquista nem se compra.
Em resumo: tudo isto revela, mais uma vez, o que o próprio De Gaulle sabe – que um presidente saído do sufrágio não é, nem pode ser nunca, “representação firme, contínua e imparcial” mais que de uma fracção, e nunca do interesse geral.
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A “legitimidade” que De Gaulle se atribui parece porém transcender o próprio sufrágio.
Numa das suas frases inesquecíveis disse:
“Je me suis fait une idée de la France ».
Se bem conheço a psique do senhor, quer-me parecer que está aqui a chave do enigma: De Gaulle é o poder legítimo da França porque só ele tem uma ideia justa da França (da sua grandeza, da sua missão, do seu lugar no mundo).
Estamos, pois, perante uma pseudo legitimação de tipo ideológico – Hitler também tinha uma ideia da Alemanha; Staline tinha uma ideia do comunismo.
Nunca um Rei “se fez uma ideia” da sua Pátria.
O Rei de Portugal terá o pesado encargo de reinar sobre os portugueses. E basta.
Cumprirá a estes terem as ideias. Mas sobretudo realizarem os feitos.

Rivera Martins de Carvalho in Diário Político e outras páginas, Biblioteca do Pensamento Político, 1971

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